sábado, 11 de dezembro de 2010

Devenir-conscient dans la photographie: Une esquisse - 2

O que chamamos de devir-consciente neste relato refere-se ao conceito proposto por Depraz, Varela e Vermersch. Este conceito baseia-se na idéia de redução fenomenológica de Russerl e seu ciclo denominado epoche, porém, abandona-se o enfoque hermenêutico tradicional da fenomenologia por uma abordagem pragmática. Nesse sentido fala-se de devir-consciente para descrever um processo pelo qual:
“[...] aquilo que nos habitava de modo implícito, difuso e virtual vem a aparecer no campo da experiência de modo explicito claro e atual.” (KASTRUP, 2005, pg49)
É o processo de alterar nossa atenção diante do mundo, a partir de um rompimento com os habituais automatismos e determinismos pelos quais costumamos encarar a experiência, a partir desse passo invertemos nosso foco perceptual do exterior para o interior para enfim acolhermos a experiência a partir de uma atenção que encontra e não mais uma atenção que busca. Um procedimento que deve ser analisado em sua ocorrência, sem se preocupar em interpretar ou representar, por isso a importância de métodos de primeira pessoa, por isso a necessidade de uma cartografia, um acompanhamento da experiência em seu território de subjetivação, sem decompor seu movimento, sem paralisá-la, nem isolá-la. Pois nem mesmo a superfície da fotografia constituí-se em um plano bidimensional de congelamento, mas sim uma imagem atravessada por fluxos subjetivos constantes.

domingo, 5 de dezembro de 2010

O Olhar

Entrevistador - O que mais o emocionou em sua jornada terapêutica?

Gaiarsa :
 A ausência do olhar na Psicoterapia – e as conseqüências dessa ausência. Desde Freud, que afastou o paciente de seu campo visual, até a psicologia ensinada nas escolas, em nenhuma das quais há uma aula sobre "A Influência do olhar nas relações humanas". Tem cabimento uma coisa dessas? Minha maior emoção foi e continua sendo a indignação com essa cegueira profissional compulsória. Por isso, passei a estudar Reich – porque ele olhava para o paciente e assim começou a perceber que o inconsciente é visível – que as pessoas mostram na expressão não-verbal (faces, gestos, atitudes) tudo o que acreditam estar escondendo... Quase todas as pessoas que se vêem gravadas em teipe mostram muita estranheza com a própria aparência e a psicologia ignora esse fato básico: meu rosto, que eu desconheço, é quase tudo o que o outro vê de mim. Essa discordância permite compreender a maior parte dos desentendimentos entre as pessoas. 


Encontrei esta entrevista do Gaiarsa neste blog: http://anasimplesassim.multiply.com/reviews/item/1

A série toda é bem bacana, são uns videos que o Gaiarsa gravava pro pessoal da comunidade dele no orkut, mas vou postar aqui o que eu achei que tinha mais a ver com o post.




E gostaria de recomendar este livro que estou lendo e gostando bastante:



Sinopse

Subestimamos o olhar, supervalorizamos a palavra. A frustração, a tristeza e o amor estão na cara de quem sente, nos gestos. Ainda assim, optamos por fingir que não estamos vendo. Partindo dessa constatação, o autor mostra quanta hipocrisia se gera com essa falta de olhar - tanto para o outro quanto para nós mesmos. Além disso, ressalta a importância pedagógica do olhar e a importância da visão múltipla do mesmo fato para acabar com todo tipo de repressão - na escola, na família, na sociedade. 

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Devenir-conscient dans la photographie: Une esquisse.

Vivemos em um mundo de imagens. Nossos avanços tecnológicos se preocupam cada vez mais em melhorar a resolução destas imagens e ampliar sua distribuição. Na era digital as imagens se tornaram bits, pixels e são acessíveis-impostas por distribuições que tendem a ignorar o espaço-tempo. As imagens adquiriram uma certa onisciência, elas podem estar em qualquer lugar a qualquer momento e serem repostas, transferidas e modificadas facilmente. Fala-se sempre de produção, as imagens são produzidas o tempo todo, sua onisciência é determinada, reticular, e formada por reproduções, invenções, reinvenções e modificações que tendem a se massificar nesta produção constante.

 É neste contexto que tentamos estudar a fotografia. Produtora de imagens par excellence, na era da informação é causa e consequência da onisciência das imagens. A capacidade de tirar fotos encontra-se democratizada como nunca, é cada vez mais fácil e mais barato tirar fotos. E no mundo dos bits não precisa-se mais de filme, sais de prata e papel ortocromático, as câmeras digitais hoje podem tirar mais de mil fotografias antes de terem que recarregar a bateria ou que acabe a memória de armazenamento, e os computadores podem armazenar quantidades ainda maiores de fotos sem se preocupar com umidade ou poeira. A velocidade de transmissão destes produtos é quase instantânea, fotos da sua família no Japão, ou da guerra no Iraque chegam em sua casa em questão de minutos. Seu uso é o mais diverso, existe tanto a fotografia como instrumento para uma analítica da verdade, produtora de evidências, fotografia publicitária, produtora de desejos, fotografia jornalística, produtora de opinião como a fotografia arte, produtora de novos mundos.

 A fotografia, hoje, faz parte do hábito e como componente intrínseco do cotidiano certos esforços são necessários em ordem de se formar um material que possa ser conduzido à análise em nossa cartografia.

Nosso objetivo ao escolher a fotografia como objeto de estudo é o de pensar o ato de fotografar e produzir uma análise sobre esta experiência. Mas debruçamo-nos sobre um ato, uma parte inseparável do restante da fotografia, um passo que não existe fora da dança, e não uma variável que se possa isolar por meio de método cientifico. Pretendemos escrever sobre uma experiência que é antes de mais nada corporificada e impossível de se desvencilhar dos agenciamentos que a operam e dos acoplamentos que a compõe. Se haverá uma hipótese a ser comprovada com este trabalho será a de que se é possível ou não se falar de devir-consciente na fotografia.

domingo, 21 de novembro de 2010

Devenir-conscient dans la photographie.1- l'image

A imagem congela-se em um plano de imanência, seu significado resultará do cruzamento das percepções interessadas do emissor e do receptor da imagem, constituindo a experiencia a partir desta relação que ultrapassa o tempo e o espaço. Uma fotografia representará as técnicas, os cuidados e as intenções do fotógrafo acumuladas no congelamento de uma cena que não deixa de guardar, também, certas proporções de caos. Este recorte estende este conjunto de fatores a uma duração que pode exceder a do próprio fotógrafo, sendo resgatado posteriormente por um receptor adiante que contribuíra com suas intenções, suas angústias e sua percepção para constituir o significado da obra-de-arte.






quinta-feira, 28 de outubro de 2010

E quando positiva demais?

É certo de que passamos por infernos nesta vida, ter abismos não é privilegio de ninguém. Sofrer é ruim, sim, mas não deveria ser tão obsceno. É um pressuposto básico da vida. E que corpo estas experiências são capazes de produzir? Podemos reduzir os seres vivos até suas células, unidades de vida, unidades de excitação cuja expressão se da por meio de dois movimentos, contração e expansão. Os organismos, para que sejam capazes de explorar o ambiente eficientemente, se expandem em sua direção, e ao se depararem com algum estímulo aversivo, se contraem, e ao se sentirem livres da ameaça são capazes de voltarem a se expandir. Muito simples e seria lindo se as coisas funcionassem sempre dessa forma, mas como humanos, temos uma característica que influencia muito neste movimento, a consciência. “A capacidade de fazer com que o instante dure em experiência” já diria o Nelson aos seus calouros. E oque isto significa neste post? Significa que uma vez que determinada ameaça nos faça contrair, nos produza um corpo defensivo, não há garantias de que voltemos a nos expandir uma vez que a ameaça deixe de existir. As vezes é muito difícil nos livrarmos dessas formas que em determinado momento nos foi tão útil mas agora só nos atrapalha. As circunstâncias mudaram, o ambiente mudou, este corpo já não serve mais, precisamos viver a morte destas formas para que possamos produzir um corpo novo que seja capaz de autonomia, com o mínimo de determinismos e automatismos, um corpo que seja capaz de viver. Pois ao se defender do sofrimento nos defendemos também da vida, um corpo contraído perde sua capacidade de explorar o ambiente, o medo de sentir emoções que consideramos ruins nos defende também de sentirmos as emoções boas. Nossa capacidade de satisfação fica prejudica assim como a capacidade de se entregar. O gato escaldado tem medo de agua fria né?

Muitas concepções minhas mudaram depois dos últimos infernos que vivi, todas estas opiniões são tão transitórias não é? Portanto mesmo o que eu disser aqui não está livre desta transitoriedade, mas é minha aposta neste momento. Mudei minhas concepções sobre sofrimento e felicidade. Sofrer perdeu completamente sua obscenidade, percebi que ao sofrer podemos “ficar com medo de água fria” se defendendo de tudo e de todos. Um medo que leva a tentar controlar tudo, sempre preocupado, sufocando a potência de viver. Mas também existe a possibilidade de positivarmos este sofrimento, sermos capazes de extrair dele o máximo possível de potência, um sofrimento que te leve ao movimento me parece muito mais válido do que uma felicidade parada, contraída, simplesmente um “acomodar com o que incomoda”. Uma felicidade que se baseie em se privar da dor, se priva também de todas as outras intensidades. Uma vida média? Não é pra mim, eu quero a intensidade dos afetos não importam quais sejam. “A tragédia em cena já não me basta!”

Acho que encarar estes abismos era o que eu precisava para deixar de temê-los, poderia ter ficado depressivo, machucado, mas não. Foi bom pra descobrir o que sou capaz de bancar, o que somos capazes de bancar. Estou sendo capaz de abandonar formas obsoletas para produzir um novo corpo, “sob dez mil aspectos diversos”. E a cada dia que passa eu percebo que vale a pena pagar o preço da intensidade, o preço de não permanecer em contração e ser capaz de se entregar, afirmar a vida e habitar seus sentidos. Acho que esta é uma forma possível de se fazer da própria vida uma obra de arte.



Pra finalizar um poema do Artaud que inspira bastante....



"Quem sou eu?
De onde venho?
Sou Antonin Artaud
e basta que eu o diga
Como só eu o sei dizer
e imediatamente
hão de ver meu corpo
atual,
voar em pedaços
e se juntar
sob dez mil aspectos
diversos.
Um novo corpo
no qual nunca mais
poderão esquecer.

Eu, Antonin Artaud, sou meu filho,
meu pai,
minha mãe,
e eu mesmo.
Eu represento Antonin Artaud!

Estou sempre morto.
Mas um vivo morto,
Um morto vivo.
Sou um morto

Sempre vivo.
A tragédia em cena já não me basta.
Quero transportá-la para minha vida.

Eu represento totalmente a minha vida.

Onde as pessoas procuram criar obras
de arte, eu pretendo mostrar o meu
espírito.
Não concebo uma obra de arte
dissociada da vida.

Eu, o senhor Antonin Artaud,
nascido em Marseille
no dia 4 de setembro de 1896,
eu sou Satã e eu sou Deus,
e pouco me importa a Virgem Maria.

sábado, 31 de julho de 2010

Des-esperando.....

Se,
ignorância é uma bênção,
estase é uma defesa,
apatia, um conforto,
é loucura sentir diferente.
Achar que não é bem assim...
desconforto-me.
Ezquizofrenizo.
E des-espero.

terça-feira, 15 de junho de 2010

O corpo desbotado sem órgãos

O corpo desbotado habitava acima das luzes da cidade? Ele está deslocado no espaço, não possui um lugar certo. Mas era um lugar de combates, invenções e reinvenções constantes que não davam lugar à calmaria nem ao tédio. “Nada poderia ser de uma maneira e não ser de outra.” Não havia escolhas e não havia paz neste lugar repleto de diversidade mas ausente da linguagem, a própria multiplicidade psicótica, diria Artaud, que não se deixa apreender por nenhuma dialética entre o Sujeito e o Outro, pressuposto básico na teoria de Lacan que encerra o sujeito como um efeito de linguagem. Este corpo não reconhece gênero nem idade, sua identidade é o Devir, e o devir de gastar muito corpo, seu tom é o tom dos objetos usados. Ele representa as linhas de fuga e sustenta sonhos e espantos de gente humilhada e aquilo que foi esquecido. Neste corpo inscrevem-se insurgências e gestos incansáveis que te dão forma. Se ele delira, delira com o que está esquecido e em seu delírio também revela prazeres e hábitos comuns aos não desbotados. Ele pode estar a margem, ele pode estar entre os humilhados, mas ele revela que os não desbotados também são capazes de produzir os desejos de sua máquina. O corpo desbotado possuía ginga e astúcia pra escapar das armadilhas da sina, sabia que se caísse nessas armadilhas definharia-se.

Os homens crédulos ao projetarem suas “luzes” viam carência - Lacan de novo! E eis que as luzes incidem sobre o corpo desbotado, o alcance sináptico das instâncias de saber-poder projeta-se sobre o corpo-sem órgãos. O corpo que se permitia aos fluxos do desejo se configura agora a partir de automatismos e determinismos impostos na luminescência que veio por baixo. O corpo desbotado começa ganhar consistência, e a consistência incita-lhe discurso, da linguagem pretende se produzir o sujeito, mas sujeito já havia, então produz-se individualidade, individualidade muda e vazia onde antes havia potência.



Estava lendo um texto para a disciplina “Psicologia escolar e problemas de aprendizagem”, o texto era: A fábula do garoto que quanto mais falava sumia sem deixar vestígios: cidade, cotidiano, e poder. De Luiz Antonio Baptista. O texto começa bem literário e despertou em mim uma vontade absurda, afobada de escrever sobre. Dessa forma eu nem esperei terminar o texto e logo nas primeiras quatro páginas eu já havia escrito uma, estava realmente empolgado com as conexões que eu fazia e jamais esperaria que na página seguinte o autor se daria ao trabalho de explicar o que havia escrito, ingenuidade minha, provavelmente produzida por uma tarde de poesia e fotografia. Bem, acho que minha interpretação foi um pouco além, pra não dizer super viajante , mas o que escrevi até que ainda se encaixa e provavelmente farei meu ensaio individual pra disciplina a partir dele.

quinta-feira, 20 de maio de 2010

Entre o F e o G no Abecedário de Gilles Deleuze.

Estou em uma fase de leituras obsessivas, muitas perguntas a serem respondidas e eu tenho todas estas perguntas? Se não, quando, ou como, terei as respostas? É de respostas que estou atrás? Eu tenho dessas fases, mergulhos profundos, mergulhos retos, talvez nem tão retos mas realmente me deixam um pouco fechado e ignorante um pouco ao que acontece na superfície. Mas passa, chega um momento em que o ar começa a faltar e então eu retorno. Mas enquanto mantenho-me neste movimento de pura absorção, devir esponja, pouca motivação sobra pra escrever, resta apenas a vontade de compartilhar alguma coisa daquilo que absorvo.


“O verdadeiro charme das pessoas reside em quando elas perdem as estribeiras, quando não sabem muito bem em que ponto estão. Não são pessoas que desmoronam, pelo contrário, nunca desmoronam. Mas se não captar a pequena marca de loucura de alguém, não se pode gostar deste alguém. Não pode gostar dele. É exatamente este lado que interessa. E todos nós somos meio dementes. Se não captar o ponto de demência da pessoa, eu temo que...aliás, fico feliz em constatar que o ponto de demência de alguém seja a fonte de seu charme.”


Algum lugar entre o F e o G no Abecedário de Gilles Deleuze.

terça-feira, 27 de abril de 2010

O que podem os afetos...

Conversava, na UFES, com meu professor e orientador Nelson e eis que de repente ele extrai de sua bolsa, avulsamente uma, UMA página de um livro do Deleuze com Claire Parnet e me pede pra fazer um texto sobre esta página até o fim do semestre, minha primeira reação foi tentar encontrar o restante do livro, mas por sorte, não há nenhum exemplar na biblioteca. Bom, melhor assim, o exercício é sobre uma página, e assim será, veremos no que vai dar.

Pois bem, lendo o texto solto, isolado de todo o seu contexto, apenas um recorte, é meio óbvio que terei impressões bem diferentes do que poderia ser de outra forma, e uma das primeiras impressões que EU tive, foi de que Deleuze e Claire, com intenção ou não, em um trecho, descreveram pra mim a prática clínica, ou pelo menos como EU acho que deveria ser:

“As diferenças efectivas estabelecem-se entre as linhas, se bem que elas sejam todas imanentes umas às outras, emaranhadas umas nas outras. É por isso que a questão da esquizo-análise ou da pragmática, e da própria micropolítica, não consiste em interpretar, mas em perguntar apenas: quais são as tuas linhas, individuo ou grupo, e que perigos existem em cada uma? – 1° Quais são os teus segmentos duros, as tuas máquinas binárias ou de sobrecodificação? Porque mesmo essas não surgem já feitas, não somos fragmentados por máquinas binárias de classe, de sexo ou de idade: há outras que não cessamos de deslocar, de inventar sem o sabermos. E que perigos despoletamos se fazemos saltar esses segmentos demasiado depressa? O próprio organismo não morrerá disso, ele que também tem as suas máquinas binárias, até nos nervos e no cérebro? – 2° Quais são as tuas linhas flexíveis, os teus fluxos e os teus limiares? Que conjunto de desterritorializações relativas, e de re-territorializações correlativas? E quanto à distribuição dos buracos negros: quais são os buracos negros de cada um, buracos onde se aloja uma fera e se nutre um microfacismo? - 3° Quais são as tuas linhas de fuga, linhas onde os fluxos se conjugam, onde os limiares atingem um ponto de adjacência e de ruptura? São ainda toleráveis, ou já foram apanhadas por uma máquina de destruição e de auto-destruição que recomporia um fascismo molar? – Pode acontecer que um agenciamento de desejo e de enunciação seja rebatido nas suas linhas mais duras, nos seus dispositivos de poder. Há agenciamentos que só têm linhas dessas. Mas os outros perigos mais flexíveis e mais viscosos espreitam-nos a todos, e diante deles o único juiz somos nós próprios, enquanto não é demasiado tarde. A questão --como é que o desejo pode desejar a sua própria repressão?-- não apresenta uma dificuldade teórica real, mas muitas dificuldades práticas em cada caso. Há desejo desde que há máquina ou -----corpo sem órgãos--. Mas há corpos sem órgãos, cancerosos, fascistas, em buracos negros ou em máquinas de abolição. Como é que o desejo pode desmontar tudo isto, traçando o seu plano de imanência e de consistência que enfrente em cada caso esses perigos?”



Bem, hoje é um dia de excessos, este texto é grande para um blog e o video a seguir é ainda maior, trata-se de uma conversa do Nelson com a Viviane Mosé no CPFL Cultura, O que podem os afetos?


http://www.cpflcultura.com.br/2009/11/19/integra-o-que-podem-os-afetos-viviane-mose-e-nelson-lucero/

quarta-feira, 21 de abril de 2010

O som experimental contra o instituído

Este domingo minha banda se apresentou no e praia tênis club em vitória, em um evento de anime, o AnimeES. Estranho?
Bem, nossa banda não tem um estilo muito bem definido, o último show foi um festival meio gótico e agora um evento de anime. Tentamos fazer um som diferente, experimentando o máximo possível as possibilidades na tentativa de produzir algo novo, tentamos escapar das formas já instituídas. Nossas influências, bem, é difícil dizer, poderíamos citar bandas, mas é isso que chamaremos de influências? Nossas vidas, nossas artes, nossas práticas, nossas micropoliticas, todo este universo perpassa nossas músicas, nosso som, nosso show. E foi dessa forma, que apesar de todos os empecilhos anti-artísticos desse estado, as faltas de oportunidades, falta de grana, de tempo, tentamos mostrar nosso som, e eis que somos chamados ao animeEs. Desde antes do evento já circulavam algumas críticas ao convite de uma banda que nada tinha a ver com o público otaku, já era de se esperar, e por isso até adaptamos um pouco o nosso visual, arrumamos um cover de rock japonês e mixamos uma intro em homenagem aos fãs do gênero. Mesmo assim, como sempre, nesse estado principalmente, a resistência ao novo era forte demais, o público espera sempre por aquilo que estão sempre acostumados a ver e ouvir. Claro que eu já esperava resistência, mas dentro de um público alternativo como os fãs de cultura japonesa eu esperava sim, por mais receptividade. Mas ficou bem claro que este público, outrora, bem alternativo, já deixa a margem para seguir com o fluxo normal da sociedade de consumo. E ah, este é um desabafo, e nele eu não quero obrigar as pessoas a gostarem de tudo que é diferente, peço a penas que deêm oportunidade para o novo e não o rechacem logo de cara. Se nosso objetivo fosse agradar todo mundo não estaríamos fazendo um som experimental, mas o problema é que pessoas que poderiam gostar acabam não conhecendo por puro preconceito. Mas bem, dentro daquele universo de gente do evento e também fora, houveram muitas pessoas que nos deram a chance, pessoas que ficaram curiosas, pessoas que ficaram afetadas, a estas eu agradecerei profundamente, pois fizeram a diferença. Agradeço também aqueles que nos convidaram a tocar e acreditaram na nossa capacidade!

E putz, durante o show, apesar do sol rasgando na minha cara e de eu não poder escutar meu instrumento e do microfone do backvocal estar desligado, eu me diverti bastante! E compartilho com vocês os melhores momentos ao som de The Conqueror, música também da minha banda.

terça-feira, 6 de abril de 2010

Sintaxe à vontade!

Histórias boas, literaturas boas, e novas? Onde estão?
Contemplem este texto do Fernando Anitelli de uma música do O Teatro Mágico!
A versão ao vivo é ainda melhor!

Para os juízes e advogados da gramática, sintam-se mais à vontade!

Sintaxe à vontade

"Sem horas e sem dores
Respeitável público pagão
Bem vindo ao teatro mágico!
sintaxe a vontade..."

Sem horas e sem dores
Respeitável público pagão
a partir de sempre
toda cura pertence a nós
toda resposta e dúvida
todo sujeito é livre para conjugar o verbo que quiser
todo verbo é livre para ser direto ou indireto
nenhum predicado será prejudicado
nem tampouco a vírgula, nem a crase nem a frase e ponto final!
afinal, a má gramática da vida nos põe entre pausas, entre vírgulas
e estar entre vírgulas é aposto
e eu aposto o oposto que vou cativar a todos
sendo apenas um sujeito simples
um sujeito e sua oração
sua pressa e sua prece
que a regência da paz sirva a todos nós... cegos ou não
que enxerguemos o fato
de termos acessórios para nossa oração
separados ou adjuntos, nominais ou não
façamos parte do contexto da crônica
e de todas as capas de edição especial
sejamos também o anúncio da contra-capa
mas ser a capa e ser contra-capa
é a beleza da contradição
é negar a si mesmo
e negar a si mesmo
é muitas vezes, encontrar-se com Deus
com o teu Deus
Sem horas e sem dores
Que nesse encontro que acontece agora
cada um possa se encontrar no outro
até porque...

tem horas que a gente se pergunta...
por que é que não se junta
tudo numa coisa só?

domingo, 21 de março de 2010

Procurando por Boas Histórias?


É fato que adoramos Boas histórias, enredos surpreendentes, personagens marcantes, tramas envolventes. Gostamos de nos emocionar com as histórias, gostamos de histórias que nos movem, nos tiram do lugar que estávamos antes de conhecê-las. Nos perturbam, nos desequilibram, nos levam a pensar. Estas são Boas histórias. Sua infecção se dispersa por vários meios de contágio, seja literatura, ópera, teatro, cinema, pinturas e esculturas. Mas todos os livros contam boas histórias? Não existem filmes que são “apenas divertidos”? Quadros cujo único propósito é embelezar uma parede? Panos de fundo? Talvez não tenha sido sempre assim. Vejamos Homero, ele conta boas histórias, sua preocupação ao escrever não foi a de tornar a ilíada um best seller e se tornar milionário. Dentre várias motivações, ele escreve para contar histórias. Não que best sellers não possam conte(a)r boas histórias, mas existe um marco, um belo dia em que a arte tornou-se mercadoria e emergiu dessa forma uma nova motivação pra sua produção, o lucro. Deste dia em diante as experiências puderam ser classificadas, organizadas e distribuídas em massa. Há livros com boas histórias, há livros casuais, há filmes que farão você arrepiar e outros que são legais.
Sem julgamento de valores, se formos inocentes podemos até dizer que estão aí para que você os escolha. Teoricamente é tão fácil baixar um filme do Kurosawa quanto algum da saga Crepúsculo. Não, não, não, não! Mentira! Esqueçam isso! Crepúsculo tu conhece até se não quiser, agora, pra achar um Goddard tu vai ter que cavar muito! É, a distribuição em massa faz isso, embora você não esteja proibido de nada, sua permissão é orientada, você encontra um best seller sempre que abre a torneira, por que então você procuraria por um Rimbaud? A arte agora se preocupa mais em entreter do que contar Boas histórias. A arte tomou o rumo do entretenimento de massa, é errado? É um efeito. Um dos efeitos da cultura de consumo. Agora, essa mesma cultura têm produzido um efeito diferente sobre uma mídia que nasceu para entreter e toma agora um rumo inverso ao da arte. Grandes histórias têm sido contadas por meio dos jogos eletrônicos, Boas histórias. Há jogos para entreter, somente, do tipo que tu joga com os amigos ou leva pra fila do banco, são jogos jogos. Talvez ainda os que mais vendem, principalmente no ocidente, é o caso de Guitar Hero por exemplo. São ruins? Não é esse o caso, apenas não me interessam. Eu quero histórias, boas histórias e me surpreendo ao encontrá-las em uma mídia que deveria ter o único propósito de divertir.


Eu penso nisso há bastante tempo, mas apenas agora decidi escrever, decidi depois de terminar Silent Hill: Shattered Memories. Que história! Melhor do que muito filme, e com certeza melhor dos que o últimos lançamentos do cinema, o que tivemos de 2009 pra 2010? Um monte de reciclagens, Star trek? Terminator? Os filmes bons foram geralmente adaptações de livros. Silent Hill por outro lado, me moveu, sua história tem todos os parâmetros de Boas histórias, e posso te garantir, eu não me impressiono fácil. Não posso dizer que os jogos que contam boas histórias superariam um Dostoyevsky, mas com certeza qualquer Shin megami Tensei coloca Dan Brown no chinelo, e Silent Hill pode não ser melhor do que Sir Arthur Conan Doyle, mas barra Stephen King fácil. E não me surpreede por exemplo que, final fantasy VII depois de mais de 10 anos de lançamento, bata record de vendas na Playstation Store, a Boa história que é contada nesse jogo, garante suas vendas em uma era em que se valoriza a qualidade técnica, gráficos, sons, acima de tudo.


Dessa forma, se gostamos de boas histórias, somos obrigados a abrirmos nossas cabeças e ouvir o que essa mídia tem a nos contar, sabendo é claro, que assim como o cinema, não será todo jogo que contará Boas histórias, na verdade, esses ainda são minoria, mas vale a pena achá-los.


Recomendações:
Há muitos jogos com excelentes histórias, Final Fantasy VII e Xenogears por exemplo, são clássicos. Mas não estou afim de falar sobre eles hoje, falarei sobre outros não tão conhecidos.


Shin Megami Tensei, a série.
"Shin megami tensei é uma frase japonesa que pode ser traduzida como
"Verdadeira Deusa da Metempsicose". Uma peça incomum de um jargão filosofico, Metempsicose refere-se especificamente ao interminável processo de nascimento, morte, e renascimento que é de central importância para as religiões de tradição budista. Até mesmo deuses são escravos do ciclo de metempsicose no pensamento budista, e essa crença são retratados proeminentemente nos enredos de vários jogos Shin Megami Tensei. Quem exatamente é a "Deusa" titular é supostamente deixado a cargo do jogador. Cada jogo SMT possui uma personagem feminina a qual o título poderia estar se referindo, ou pode ser pego como uma referencia as transformações radicais pelas quais o Japão experiencia durante o curso do jogo."
Retirado do site oficial do Shin Megami Tensei:
http://www.atlus.com/smt/history.html , acessado em 07/07/08

Shin Megami Tensei, geralmente abreviada para Megaten, é uma série de jogos com caracteriscas incomuns perante a maioria dos jogos do mesmo Gênero, envolvendo conteúdos que foram tabus por longos anos na indústria de jogos do ocidente, e por isso a maioria e os mais antigos megatens maus chegaram a serem vistos neste lado do mundo. A série tende a levar a sério suas referencias, seus enredos envolvem profundos conhecimentos de mitologia, psicologia e filosofia, mantendo uma precisão no seu conteúdo que geralmente não é vista em outros jogos que em geral as distorcem. E quando eu digo profundo eu quero dizer que é possível aprender muito com megaten, suas referencias mitológicas são extremamente amplas, envolvendo desde deuses gregos a panteões de diversas culturas como até mesmo religiões do Sri-Lanka. Quanto a filosofia, é muito comum encontrarmos fortes e óbvias referencias ao budismo e ao pensamento oriental, sem contar nas claras influencias de pensadores como Nietzsche e Schopenghauer. E como se não bastasse há profundas referencias à história da psicologia e suas teorias,o que fez com que eu já me familiarizasse com certos autores, sobretudo C.G. Jung, antes mesmo de entrar para faculdade.O exemplo clássico seria o spin off Persona, principalmente os "Persona 2" Innocent Sin, e Eternal Punishment os quais abordam temas como personas (duh), arquétipos e inconsciente coletivo. E Digital Devil Saga, pelo qual durante todo o progresso do jogo é como o processo de individuação descrito por Jung e já comentado no meu ensaio individual, ficando bem clara a referência ao final do segundo jogo.



Silent Hill: Shattered Memories :











O jogo começa com uma advertência que afirma que ao jogá-lo você estará sendo avaliado psicologicamente e que o jogo se modificará de acordo com cada jogador na tentativa de produzir uma experiência de terror personalizada, o seu próprio pesadelo pessoal. Dessa forma, parte do jogo se passa durante uma consulta com o psicólogo onde o jogador controlará o personagem em primeira pessoa respondendo a questionários e testes, ditos, psicológicos. E alterna em seguida para a ação em terceira pessoa em o que parece ser um flashback, mesmo nesses momentos o jogo estará avaliando o jogador e se modificando conforme suas ações. É nesses flashbacks que se passa a maior parte da história, do terror e da ação. Bem, isso pode explicar por que esse é um bom jogo, mas com certeza não explica porque eu o considero uma Boa história, pra descobrir isso, só jogando. O que posso adiantar é que o enredo é bem complexo, te mantém o tempo todo especulando sobre oq eu realmente está acontecendo e enche sua cabeça de teorias, o final é surpreendente e se modifica de acordo com suas escolhas durante o jogo. E a trilha sonora do mestre Akira Yamaoka, consagrado pelos seus trabalhos com a série, é perfeita pra te manter no clima de suspense tornando a experiência de terror ainda mais completa.
E é claro, daria pra discutirmos muito a respeito desse assunto e com certeza isto não é um artigo cientifico nem uma dissertação final, são apenas alguns pensamentos.