quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Convocando Artaud à Velvet Room : Van Gogh, O suicida da sociedade.

Mais uma recomendação de leitura, Van Gogh O suicida da sociedade de Antonin Artaud. Estou apaixonado por este livro, excelente.
Sinopse:
"Em Van Gogh, O suicida da sociedade, publicado em 1947, alguns meses antes de sua morte, Antonin Artaud presta ao pintor uma deslumbrante homenagem. Não, Van Gogh não era louco, ele insiste, ou então ele o era no sentido desta autêntica alienação que a sociedade e os psiquiatras querem ignorar."Mas que garantia têm os alienados evidentes deste mundo de serem tratados por seres seres autênticos?" (Aliéanation et magic noire)

Eu ainda não terminei então nem me sinto no direito de fazer alguma resenha ou algo assim, mas tem algumas partes do texto que eu gostaria de compartilhar:

"É possível falar da boa saúde mental de Van Gogh que, no curso de toda sua vida, apenas assou uma das mãos e, fora isso, não fez mais que amputar a orelha esquerda,
num mundo onde se come todos os dias vagina cozida à la sauce vert ou sexo de recém-nascido espancado colérico, tal como é colhido ao sair do sexo materno.
E isto não é uma imagem, mas um fato abundante e cotidianamente repetido e observado em toda a terra.
E é assim que, por mais delirante que possa parecer tal afirmação, a vida presente se mantém em sua velha atmosfera de estupro, de anarquia, de desordem, de delírio, de desregramento, de loucura crônica, de inércia burguesa, de anomalia psíquica  (porque não foi o homem mas o mundo que se tornou anormal), de assumida desonestidade e de insigne hipocrisia, de sórdido desprezo por tudo que mostre raça,
de reivindicação de uma ordem inteiramente baseada na efetivação de uma primitiva injustiça,
de crime organizado enfim.
Isto é nocivo porque a consciência doente tem a esta altura interesse capital em não se livrar da doença.
Foi assim que uma sociedade deteriorada inventou a psiquiatria para se defender das indagações de certas mentes superiores, cuja capacidade de adivinhar a incomodava."

"Porque o que a pintura de Van Gogh ataca não é um determinado conformismo de costumes, mas o conformismo das próprias instituições. E nem mesmo a natureza exterior, com seus climas, marés e tempestades equinociais, pode manter, depois da passagem de Van Gogh, a mesma gravitação de antes."

"E o que é um autêntico alienado?
É um homem que preferiu tornar-se louco, no sentido em que isto é socialmente entendido, a conspurcar uma certa idéia superior da honra humana.
Foi assim que a sociedade estrangulou em seus asilos todos aqueles dos quais quis se livrar ou se proteger, por terem se recusado a se tornar cúmplices dela em algumas grandes safadezas.
Porque um alienado é também um homem que a sociedade se negou a ouvir e quis impedi-lo de dizer insuportáveis verdades."

"Quanto à mão assada, trata-se de heroísmo puro e simples, quanto à orelha cortada, é lógica direta, e, repito, quanto a um mundo que, dia e noite, e cada vez mais, como o incomível,
para levar até o fim sua má intenção,
nada se tem a fazer, chegando a este ponto,
senão tapar-lhe a boca."