quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Convocando Artaud à Velvet Room : Van Gogh, O suicida da sociedade. Parte 2

Compartilhando mais algumas partes da minha leitura do livro Van Gogh, O suicida da sociedade, de Antonin Artaud.



"Van Gogh não morreu de um estado de delírio próprio,
e sim por ter servido corporalmente de campo a um problema em torno do qual, desde suas origens, se debate o espírito iníquio desta humanidade,
que é o da predominância da carne sobre o espírito, ou do corpo sobre a carne, ou do espírito sobre um e outro.
E onde fica neste delírio o lugar do eu humano?
Van Gogh buscou o seu durante toda a vida com uma energia e uma determinação estranhas.
E ele não se suicidou num gesto de loucura, no transe de não consegui-lo, mas, pelo contrário, acabara de consegui-lo e de descobrir o que ele era e quem ele era, quando a consciência geral da sociedade, para puni-lo por se ter desvencilhado dela,
o suicidou.
E isto se passou com Van Gogh como de hábito se passa sempre durante uma suruba, uma missa, uma absolvição, ou tal ou qual rito de consagração, de possessão, de sucubação ou de incubação.
Ela se introduziu então em seu corpo,
esta sociedade
absolvida,
consagrada,
santificada
e possessa,

apagou nele a consciência sobrenatural que acabara de conquistar, e como uma inundação de corvos negros nas fibras de sua árvore interna,
o submergiu num último mergulho,
e, tomando-lhe o lugar,
o matou.
Porque é da lógica anatômica do homem moderno nunca ter podido viver, nem pensado viver, senão possesso."


"Nunca ninguém escreveu ou pintou, esculpiu, construiu, inventou, a não ser para sair do inferno."

"Descrever um quadro de Van Gogh, para quê! Nenhuma descrição proposta por outra pessoa poderá valer o simples alinhamento de objetos naturais e de cores a que se entrega o próprio Van Gogh,
tão grande escritor quanto pintor e que confere à obra descrita a impressão da mais atordoante autenticidade."