segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Gaiarsa na Velvet Room: "Fundamental em psicoterapia seria perder o respeito!"

Nas minhas pesquisas sobre 'O Olhar" achei isso:

O Olhar do Big Brother

 E o olhar, o que tem a ver com isso? O Controle coletivo se faz primariamente à custa de oljares: de desperezo, horror, repugnância, condenação. Os olhares são os primeiros guardiões da moralidade coletiva, os mais imediatos e - estranhamente -  os mais ignorados. As pessoas pensam mil coisas, principalmente em torno da noção de "culpa" - portanto, do certo e do errado. Acreditam que são esses pensamentos - julgamentos preconceituosos - que mantêm a ordem estabelecida. Mas o que mantém a desordem estabelecida não são as palavras, mas as atitudes dos outros. Como sempre, o olhar é muito mais rápido - e fácil de ser negado! - do que as frases.

  As artes marciais - elas também - pretendem reavivar em nós esse animal inteiro (meditações dinâmicas).

 Dizem tantos: "Eu sei o que é bom pra mim, sei que não estou contente com a vida que levo, mas não tenho coragem para arriscar - para sair. Então aguento. Afinal, isso não é o normal?"

  "Aguente" é a mais comum de todas as lições morais para o casamento, a profissão, os velhos amigos.

  Só os que aguenta, têm compaixão pelos que aguentam e, juntos, mantêm o poderoso elo do sistema - o sutil e incompreensível pacto social dos oprimidos, o masoquismo da adaptação social, do "normal".
  "Sou normal" (mas você não imagina o que isso me custa...).

  Esse pacto invadiu, inclusive, a psicoterapia: no consenso popular, psicoterapia é mais ou menos chorar as mágoas, contar as desgraças, expor os medos, e não sair disso.  Também nas conversas comuns as desgraças são ouvidas mais atentamente do que os momentos de felicidade ou alegria...Essa atenção do terapeuta para o negativo é a melhor "técnica" imaginável para reforçar todas as coisas ruins. Se não der atenção a quem conta desgraças, você não tem coração. Ninguém parece perceber que, se todos dermos atenção à desgraça, só veremos desgraça no mundo. Se você chega rindo e brincando, as pessoas acham - ou mostram na cara - que esse riso é muito estranho e não fica bem, é coisa de criança. Rir muito é parecer bobo, ao passo que, se você se descabelar, reclamar do marido - que nunca está aí, que nunca faz "o que deve" - e do filho, que está se acabando em cocaína, todos se compadecem e até se dispõem a ajudar.

  Como sempre, os contrários estão presentes: em uma sociedade sádica - predadora e opressiva - o masoquismo é muito apreciado...

  Se numa terapia não forem quebradas a seriedade e a respeitabilidade das pessoas, nada se conseguirá. Ser sério e respeitável é o carimbo da adaptação social perfeita. "Sou infeliz, mas muito respeitável" é o que o homem sério diz. Por isso, seria muito bom se os terapeutas e as escolas de psicoterapia começassem a brincar um pouco mais, a ficar menos sérios e respeitáveis. É o que fazem muitas técnicas alternativas, bem próximas da dança, do contato, da celebração, da alegria.

  Fundamental em psicoterapia seria perder o respeito!


                                                                                                  Páginas 94 e 95 do Livro 'O Olhar" de J.A. Gairasa.