terça-feira, 27 de abril de 2010

O que podem os afetos...

Conversava, na UFES, com meu professor e orientador Nelson e eis que de repente ele extrai de sua bolsa, avulsamente uma, UMA página de um livro do Deleuze com Claire Parnet e me pede pra fazer um texto sobre esta página até o fim do semestre, minha primeira reação foi tentar encontrar o restante do livro, mas por sorte, não há nenhum exemplar na biblioteca. Bom, melhor assim, o exercício é sobre uma página, e assim será, veremos no que vai dar.

Pois bem, lendo o texto solto, isolado de todo o seu contexto, apenas um recorte, é meio óbvio que terei impressões bem diferentes do que poderia ser de outra forma, e uma das primeiras impressões que EU tive, foi de que Deleuze e Claire, com intenção ou não, em um trecho, descreveram pra mim a prática clínica, ou pelo menos como EU acho que deveria ser:

“As diferenças efectivas estabelecem-se entre as linhas, se bem que elas sejam todas imanentes umas às outras, emaranhadas umas nas outras. É por isso que a questão da esquizo-análise ou da pragmática, e da própria micropolítica, não consiste em interpretar, mas em perguntar apenas: quais são as tuas linhas, individuo ou grupo, e que perigos existem em cada uma? – 1° Quais são os teus segmentos duros, as tuas máquinas binárias ou de sobrecodificação? Porque mesmo essas não surgem já feitas, não somos fragmentados por máquinas binárias de classe, de sexo ou de idade: há outras que não cessamos de deslocar, de inventar sem o sabermos. E que perigos despoletamos se fazemos saltar esses segmentos demasiado depressa? O próprio organismo não morrerá disso, ele que também tem as suas máquinas binárias, até nos nervos e no cérebro? – 2° Quais são as tuas linhas flexíveis, os teus fluxos e os teus limiares? Que conjunto de desterritorializações relativas, e de re-territorializações correlativas? E quanto à distribuição dos buracos negros: quais são os buracos negros de cada um, buracos onde se aloja uma fera e se nutre um microfacismo? - 3° Quais são as tuas linhas de fuga, linhas onde os fluxos se conjugam, onde os limiares atingem um ponto de adjacência e de ruptura? São ainda toleráveis, ou já foram apanhadas por uma máquina de destruição e de auto-destruição que recomporia um fascismo molar? – Pode acontecer que um agenciamento de desejo e de enunciação seja rebatido nas suas linhas mais duras, nos seus dispositivos de poder. Há agenciamentos que só têm linhas dessas. Mas os outros perigos mais flexíveis e mais viscosos espreitam-nos a todos, e diante deles o único juiz somos nós próprios, enquanto não é demasiado tarde. A questão --como é que o desejo pode desejar a sua própria repressão?-- não apresenta uma dificuldade teórica real, mas muitas dificuldades práticas em cada caso. Há desejo desde que há máquina ou -----corpo sem órgãos--. Mas há corpos sem órgãos, cancerosos, fascistas, em buracos negros ou em máquinas de abolição. Como é que o desejo pode desmontar tudo isto, traçando o seu plano de imanência e de consistência que enfrente em cada caso esses perigos?”



Bem, hoje é um dia de excessos, este texto é grande para um blog e o video a seguir é ainda maior, trata-se de uma conversa do Nelson com a Viviane Mosé no CPFL Cultura, O que podem os afetos?


http://www.cpflcultura.com.br/2009/11/19/integra-o-que-podem-os-afetos-viviane-mose-e-nelson-lucero/

quarta-feira, 21 de abril de 2010

O som experimental contra o instituído

Este domingo minha banda se apresentou no e praia tênis club em vitória, em um evento de anime, o AnimeES. Estranho?
Bem, nossa banda não tem um estilo muito bem definido, o último show foi um festival meio gótico e agora um evento de anime. Tentamos fazer um som diferente, experimentando o máximo possível as possibilidades na tentativa de produzir algo novo, tentamos escapar das formas já instituídas. Nossas influências, bem, é difícil dizer, poderíamos citar bandas, mas é isso que chamaremos de influências? Nossas vidas, nossas artes, nossas práticas, nossas micropoliticas, todo este universo perpassa nossas músicas, nosso som, nosso show. E foi dessa forma, que apesar de todos os empecilhos anti-artísticos desse estado, as faltas de oportunidades, falta de grana, de tempo, tentamos mostrar nosso som, e eis que somos chamados ao animeEs. Desde antes do evento já circulavam algumas críticas ao convite de uma banda que nada tinha a ver com o público otaku, já era de se esperar, e por isso até adaptamos um pouco o nosso visual, arrumamos um cover de rock japonês e mixamos uma intro em homenagem aos fãs do gênero. Mesmo assim, como sempre, nesse estado principalmente, a resistência ao novo era forte demais, o público espera sempre por aquilo que estão sempre acostumados a ver e ouvir. Claro que eu já esperava resistência, mas dentro de um público alternativo como os fãs de cultura japonesa eu esperava sim, por mais receptividade. Mas ficou bem claro que este público, outrora, bem alternativo, já deixa a margem para seguir com o fluxo normal da sociedade de consumo. E ah, este é um desabafo, e nele eu não quero obrigar as pessoas a gostarem de tudo que é diferente, peço a penas que deêm oportunidade para o novo e não o rechacem logo de cara. Se nosso objetivo fosse agradar todo mundo não estaríamos fazendo um som experimental, mas o problema é que pessoas que poderiam gostar acabam não conhecendo por puro preconceito. Mas bem, dentro daquele universo de gente do evento e também fora, houveram muitas pessoas que nos deram a chance, pessoas que ficaram curiosas, pessoas que ficaram afetadas, a estas eu agradecerei profundamente, pois fizeram a diferença. Agradeço também aqueles que nos convidaram a tocar e acreditaram na nossa capacidade!

E putz, durante o show, apesar do sol rasgando na minha cara e de eu não poder escutar meu instrumento e do microfone do backvocal estar desligado, eu me diverti bastante! E compartilho com vocês os melhores momentos ao som de The Conqueror, música também da minha banda.

terça-feira, 6 de abril de 2010

Sintaxe à vontade!

Histórias boas, literaturas boas, e novas? Onde estão?
Contemplem este texto do Fernando Anitelli de uma música do O Teatro Mágico!
A versão ao vivo é ainda melhor!

Para os juízes e advogados da gramática, sintam-se mais à vontade!

Sintaxe à vontade

"Sem horas e sem dores
Respeitável público pagão
Bem vindo ao teatro mágico!
sintaxe a vontade..."

Sem horas e sem dores
Respeitável público pagão
a partir de sempre
toda cura pertence a nós
toda resposta e dúvida
todo sujeito é livre para conjugar o verbo que quiser
todo verbo é livre para ser direto ou indireto
nenhum predicado será prejudicado
nem tampouco a vírgula, nem a crase nem a frase e ponto final!
afinal, a má gramática da vida nos põe entre pausas, entre vírgulas
e estar entre vírgulas é aposto
e eu aposto o oposto que vou cativar a todos
sendo apenas um sujeito simples
um sujeito e sua oração
sua pressa e sua prece
que a regência da paz sirva a todos nós... cegos ou não
que enxerguemos o fato
de termos acessórios para nossa oração
separados ou adjuntos, nominais ou não
façamos parte do contexto da crônica
e de todas as capas de edição especial
sejamos também o anúncio da contra-capa
mas ser a capa e ser contra-capa
é a beleza da contradição
é negar a si mesmo
e negar a si mesmo
é muitas vezes, encontrar-se com Deus
com o teu Deus
Sem horas e sem dores
Que nesse encontro que acontece agora
cada um possa se encontrar no outro
até porque...

tem horas que a gente se pergunta...
por que é que não se junta
tudo numa coisa só?