domingo, 21 de março de 2010

Procurando por Boas Histórias?


É fato que adoramos Boas histórias, enredos surpreendentes, personagens marcantes, tramas envolventes. Gostamos de nos emocionar com as histórias, gostamos de histórias que nos movem, nos tiram do lugar que estávamos antes de conhecê-las. Nos perturbam, nos desequilibram, nos levam a pensar. Estas são Boas histórias. Sua infecção se dispersa por vários meios de contágio, seja literatura, ópera, teatro, cinema, pinturas e esculturas. Mas todos os livros contam boas histórias? Não existem filmes que são “apenas divertidos”? Quadros cujo único propósito é embelezar uma parede? Panos de fundo? Talvez não tenha sido sempre assim. Vejamos Homero, ele conta boas histórias, sua preocupação ao escrever não foi a de tornar a ilíada um best seller e se tornar milionário. Dentre várias motivações, ele escreve para contar histórias. Não que best sellers não possam conte(a)r boas histórias, mas existe um marco, um belo dia em que a arte tornou-se mercadoria e emergiu dessa forma uma nova motivação pra sua produção, o lucro. Deste dia em diante as experiências puderam ser classificadas, organizadas e distribuídas em massa. Há livros com boas histórias, há livros casuais, há filmes que farão você arrepiar e outros que são legais.
Sem julgamento de valores, se formos inocentes podemos até dizer que estão aí para que você os escolha. Teoricamente é tão fácil baixar um filme do Kurosawa quanto algum da saga Crepúsculo. Não, não, não, não! Mentira! Esqueçam isso! Crepúsculo tu conhece até se não quiser, agora, pra achar um Goddard tu vai ter que cavar muito! É, a distribuição em massa faz isso, embora você não esteja proibido de nada, sua permissão é orientada, você encontra um best seller sempre que abre a torneira, por que então você procuraria por um Rimbaud? A arte agora se preocupa mais em entreter do que contar Boas histórias. A arte tomou o rumo do entretenimento de massa, é errado? É um efeito. Um dos efeitos da cultura de consumo. Agora, essa mesma cultura têm produzido um efeito diferente sobre uma mídia que nasceu para entreter e toma agora um rumo inverso ao da arte. Grandes histórias têm sido contadas por meio dos jogos eletrônicos, Boas histórias. Há jogos para entreter, somente, do tipo que tu joga com os amigos ou leva pra fila do banco, são jogos jogos. Talvez ainda os que mais vendem, principalmente no ocidente, é o caso de Guitar Hero por exemplo. São ruins? Não é esse o caso, apenas não me interessam. Eu quero histórias, boas histórias e me surpreendo ao encontrá-las em uma mídia que deveria ter o único propósito de divertir.


Eu penso nisso há bastante tempo, mas apenas agora decidi escrever, decidi depois de terminar Silent Hill: Shattered Memories. Que história! Melhor do que muito filme, e com certeza melhor dos que o últimos lançamentos do cinema, o que tivemos de 2009 pra 2010? Um monte de reciclagens, Star trek? Terminator? Os filmes bons foram geralmente adaptações de livros. Silent Hill por outro lado, me moveu, sua história tem todos os parâmetros de Boas histórias, e posso te garantir, eu não me impressiono fácil. Não posso dizer que os jogos que contam boas histórias superariam um Dostoyevsky, mas com certeza qualquer Shin megami Tensei coloca Dan Brown no chinelo, e Silent Hill pode não ser melhor do que Sir Arthur Conan Doyle, mas barra Stephen King fácil. E não me surpreede por exemplo que, final fantasy VII depois de mais de 10 anos de lançamento, bata record de vendas na Playstation Store, a Boa história que é contada nesse jogo, garante suas vendas em uma era em que se valoriza a qualidade técnica, gráficos, sons, acima de tudo.


Dessa forma, se gostamos de boas histórias, somos obrigados a abrirmos nossas cabeças e ouvir o que essa mídia tem a nos contar, sabendo é claro, que assim como o cinema, não será todo jogo que contará Boas histórias, na verdade, esses ainda são minoria, mas vale a pena achá-los.


Recomendações:
Há muitos jogos com excelentes histórias, Final Fantasy VII e Xenogears por exemplo, são clássicos. Mas não estou afim de falar sobre eles hoje, falarei sobre outros não tão conhecidos.


Shin Megami Tensei, a série.
"Shin megami tensei é uma frase japonesa que pode ser traduzida como
"Verdadeira Deusa da Metempsicose". Uma peça incomum de um jargão filosofico, Metempsicose refere-se especificamente ao interminável processo de nascimento, morte, e renascimento que é de central importância para as religiões de tradição budista. Até mesmo deuses são escravos do ciclo de metempsicose no pensamento budista, e essa crença são retratados proeminentemente nos enredos de vários jogos Shin Megami Tensei. Quem exatamente é a "Deusa" titular é supostamente deixado a cargo do jogador. Cada jogo SMT possui uma personagem feminina a qual o título poderia estar se referindo, ou pode ser pego como uma referencia as transformações radicais pelas quais o Japão experiencia durante o curso do jogo."
Retirado do site oficial do Shin Megami Tensei:
http://www.atlus.com/smt/history.html , acessado em 07/07/08

Shin Megami Tensei, geralmente abreviada para Megaten, é uma série de jogos com caracteriscas incomuns perante a maioria dos jogos do mesmo Gênero, envolvendo conteúdos que foram tabus por longos anos na indústria de jogos do ocidente, e por isso a maioria e os mais antigos megatens maus chegaram a serem vistos neste lado do mundo. A série tende a levar a sério suas referencias, seus enredos envolvem profundos conhecimentos de mitologia, psicologia e filosofia, mantendo uma precisão no seu conteúdo que geralmente não é vista em outros jogos que em geral as distorcem. E quando eu digo profundo eu quero dizer que é possível aprender muito com megaten, suas referencias mitológicas são extremamente amplas, envolvendo desde deuses gregos a panteões de diversas culturas como até mesmo religiões do Sri-Lanka. Quanto a filosofia, é muito comum encontrarmos fortes e óbvias referencias ao budismo e ao pensamento oriental, sem contar nas claras influencias de pensadores como Nietzsche e Schopenghauer. E como se não bastasse há profundas referencias à história da psicologia e suas teorias,o que fez com que eu já me familiarizasse com certos autores, sobretudo C.G. Jung, antes mesmo de entrar para faculdade.O exemplo clássico seria o spin off Persona, principalmente os "Persona 2" Innocent Sin, e Eternal Punishment os quais abordam temas como personas (duh), arquétipos e inconsciente coletivo. E Digital Devil Saga, pelo qual durante todo o progresso do jogo é como o processo de individuação descrito por Jung e já comentado no meu ensaio individual, ficando bem clara a referência ao final do segundo jogo.



Silent Hill: Shattered Memories :











O jogo começa com uma advertência que afirma que ao jogá-lo você estará sendo avaliado psicologicamente e que o jogo se modificará de acordo com cada jogador na tentativa de produzir uma experiência de terror personalizada, o seu próprio pesadelo pessoal. Dessa forma, parte do jogo se passa durante uma consulta com o psicólogo onde o jogador controlará o personagem em primeira pessoa respondendo a questionários e testes, ditos, psicológicos. E alterna em seguida para a ação em terceira pessoa em o que parece ser um flashback, mesmo nesses momentos o jogo estará avaliando o jogador e se modificando conforme suas ações. É nesses flashbacks que se passa a maior parte da história, do terror e da ação. Bem, isso pode explicar por que esse é um bom jogo, mas com certeza não explica porque eu o considero uma Boa história, pra descobrir isso, só jogando. O que posso adiantar é que o enredo é bem complexo, te mantém o tempo todo especulando sobre oq eu realmente está acontecendo e enche sua cabeça de teorias, o final é surpreendente e se modifica de acordo com suas escolhas durante o jogo. E a trilha sonora do mestre Akira Yamaoka, consagrado pelos seus trabalhos com a série, é perfeita pra te manter no clima de suspense tornando a experiência de terror ainda mais completa.
E é claro, daria pra discutirmos muito a respeito desse assunto e com certeza isto não é um artigo cientifico nem uma dissertação final, são apenas alguns pensamentos.