segunda-feira, 25 de junho de 2012

Dislexia parte 3: Idioleto.

"Her stare is louder than her voice..."

Mas não são as palavras também, apesar de sua inerente limitação e afastamento da realidade, responsáveis pela pluralidade e pela beleza da literatura? Como posso, tal qual palavra, me organizar de forma a permitir mais possibilidades? Menos gramáticas e mais figuras de linguagem? Menos conceitos e mais metáforas?

Organizar nada tem a ver com ordenar, para falarmos, ordenamos as palavras em linha reta, falamos as palavras sucessivamente na tentativa de produzir um sentido, mas há sentidos outros que podem ser habitados fora dessa lógica. Uma frase, nós sabemos onde começa, mas e uma pintura? O pensamento não precisa de ordem, podemos organizá-lo, mas ele não precisa estar em linha reta. Ele pode, e muitas vezes é, intempestivo e dionisíaco. A noção de “Eu” por exemplo, é uma forma de organizar nossas experiências, mas se nos identificamos demais com estes limites, eles passam a ser uma ordem - limitando a vida e as possibilidades de viver. Nós precisamos reconhecer estes limites “são eles que permitem organizar o caos que nós somos” são os limites que permitem a vida, mas quando os limites são como pontes, passagens, fluxos e não um fim. Limites como membranas permeáveis e não como prisões. E assim como usamos dos limites para formar uma noção de “Eu”, para organizar nosso pensamento, eu descobri que também podemos usar a linguagem como um limite capaz de potencializar a vida. Quando somos capazes de gaguejar em nossa própria língua, quando tentamos através da linguagem expressar a multiplicidade estética que é a vida ao invés de tentar explicar uma verdade. Quando somos capazes de produzir novos vínculos com a linguagem capazes de fazer a palavra manifestar seu devir .Quando percebemos que as palavras nem sempre são apenas para serem lidas ou ouvidas e passamos a enxergar as danças da linguagem e sentir seu delírio. E se eu puder delirar na língua, então, não ficarei mudo....

“Agora, a essência da natureza deve expressar-se por via simbólica; um novo mundo de símbolos se faz necessário, todo o simbolismo corporal, não apenas o simbolismo dos lábios, dos semblantes, das palavras, mas o conjunto inteiro, todos os gestos bailantes dos membros em movimentos rítmicos. Então, crescem as outras forças simbólicas, as da música, em súbita impetuosidade, na rítmica, na dinâmica, na harmonia.” (Nietzsche, O nascimento da tragédia.)

Continuo falando, mas agora sem acreditar na identidade subjacente ao que é dito, agora estou sabendo do caos SENTIDO que permanece em cada palavra...


"E você?

A palavra é uma roupa que a gente veste.
Uns gostam de palavras curtas.
Outros usam roupa em excesso.
Existem os que jogam palavra fora.
Pior são os que a usam em desalinho.
Alguns usam palavras caras.
Poucos ostentam palavras raras.
Tem quem nunca troca.
Tem quem usa a dos outros.
A maioria não sabe o que veste.
Alguns sabem e fingem que não.
E tem quem nunca usa a roupa certa pra ocasião.
Tem os que se ajeitam bem com poucas peças.
Outros se enrolam em um vocabulário de muitas.
Tem gente que estraga tudo o que usa.
E você, com quais palavras você se despe?"


                                                        Viviane Mosé


Acredito que errado é aquele que fala correto e não vive o que diz.”
                                                                                                  Fernando Anitelli




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